Há especialmente três pontos que requerem
consideração aqui;
1. O LUGAR PARA O QUAL OS ÍMPIOS SERÃO
ENVIADOS. Na teologia dos dias atuais há uma evidente tendência,
nalguns círculos, de eliminar a idéia de punição eterna. Os
extincionistas[aqueles que crêem no aniquilamento], que ainda estão
representados em seitas como o adventismo e a "aurora do milênio", e os
defensores da imortalidade condicional, negam a existência perpétua dos ímpios
e, com isso, tornam desnecessário um lugar de punição eterna. Na teologia
"literal" moderna, a palavra "inferno" é geralmente considerada como um
designativo figurado de uma condição puramente subjetiva, na qual os homens
podem achar-se mesmo enquanto na terra, e a qual pode tornar-se permanente no
futuro.
Mas essas interpretações certamente não fazem
justiça aos dados da Escritura. Não pode haver dúvida razoável quanto ao fato de
que a Bíblia ensina a existência permanente dos ímpios, Mt 24.5; 25.30, 46; Lc
16.19-31. Além disso, em conexão com o tema do "inferno", a Bíblia emprega
expressões indicativas de lugar o tempo todo. Ela dá ao lugar de tormento o nome
de geena, nome derivado do hebraico ge (terra, ou vale) e hinnom ou beney
hinnom, isto é, Hinnom ou Filho de Hinnom. Esse nome foi aplicado originalmente
a um vale sito a sudoeste de Jerusalém. Era o lugar em que os ímpios idólatras
sacrificavam seus filhos a Moloque, fazendo-os passar pelo fogo. Daí era
considerado impuro e, em tempos mais recentes, era denominado "vale de tophet"
(escarro), como uma região completamente desprezada. Como resultado, veio a ser
um símbolo de lugar de tormento eterno.Mt 18.9 fala de ten gennan tou pyros, a
geena de fogo, e esta expressão forte é empregada como um sinônimo de to pyr to
aionion, o fogo eterno, que aparece no versículo anterior. A Bíblia fala também
de uma "fornalha acessa", Mt 13.42, e de um "lago de fogo" (ou "do fogo"), Ap
20.14,15, que se contrasta com o "mar de vidro, semelhante ao cristal", Ap 4.6.
Os termos "prisão". 1 Pe 3.19, "abismo", Lc 8.31 e "tártaro", 2 Pe 2.4 (margem),
também são empregados. A Escrituras se refere aos excluídos do céu dizendo que
estão fora (na trevas exteriores) e que são lançados no inferno. A descrição
registrada em Lc 16.19-31 é, por certo, inteiramente descritiva de lugar.
2. O ESTADO NO QUAL CONTINUARÃO SUA
EXISTÊNCIA. É impossível determinar precisamente o que constituirá a
punição eterna dos ímpios, e os convém falar mui cautelosamente sobe o assunto.
Positivamente se pode dizer que consistirá em (a) ausência total do favor de
Deus, (b) uma interminável perturbação da vida, resultante do domínio completo
do pecado; (c) dores e sofrimentos positivos no corpo e alma; e (d) castigo
subjetivo, como agonias da consciência, angústia, desespero, choro e ranger de
dentes, Mt 8.12; 13.50; Mc 9.43,44,47,48; Lc 16.23,28; Ap 14.10; 21.8.
Evidentemente, haverá graus na punição dos ímpios. Isto se deduz de passagens
como Mt 11.22, 24; Lc 12.47,48; 20.17. Sua punição será proporcional ao seu
pecado contra a luz que receberam. Mas, não obstante será punição eterna para
todos eles. Esta verdade é exposta claramente na Escritura, Mt 18.8; 2 Ts 1.9;
Ap 14.11; 20.10. Alguns negam que haverá fogo literal, porque este não poderia
afetar espírito como Satanás e seus demônios. Mas, como podemos sabê-lo? Nosso
corpo certamente age em nossa alma de algum modo misterioso. Haverá alguma
punição positiva correspondente aos nossos corpos. É indubitavelmente certo,
porém, que uma grande parte da linguagem referente ao céu e ao inferno dever ser
entendida figuradamente.
3. DURAÇÃO DA PUNIÇÃO.
Contudo, a questão da eternidade da punição futura merece consideração mais
especial, por ser freqüentemente negada. Dizem que as palavras empregadas na
Escritura para "sempiterno" e "eterno" podem denotar simplesmente uma "era" ou
uma "dispensação", ou algum outro longo período de tempo. Ora, não se pode negar
que são empregadas desse modo nalgumas passagens, mas isto não prova que sempre
tenham este sentido limitado. Não é este o sentido literal desses termos. Sempre
que são empregados assim, o são empregados figuradamente, e, nesses casos, o seu
uso figurado é geralmente esclarecido pelo contexto. Além disso, há razões
positivas para se pensar que essas palavras não têm aquele sentido limitado nas
passagens a que nos referirmos. (a) Em Mt 25.46 a mesma palavra descreve a
duração, tanto da bem-aventurança dos santos como da penalidade dos ímpios. Se
esta não for, propriamente falando, interminável, tampouco o será aquela; e,
todavia, muito dos que duvidam da punição eterna, não duvidam da felicidade
eterna. (b) São empregadas outras expressões que não podem ser postas de lado
pela consideração mencionada acima. O fogo do inferno é chamado "fogo
inextinguível", Mc 9.43; e dos ímpios se diz que "não lhes morre o verme", Mc
9.48. Além disso, o abismo que separará santos e pecadores no futuro é descrito
como fixo e intransponível, Lc 16.26.
Autor:Louis Berkhof
Fonte: Teologia Sistemática do autor, p. 741,742, Ed Cultura Cristã (CEP).
Fonte: Teologia Sistemática do autor, p. 741,742, Ed Cultura Cristã (CEP).
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