Entrevista: Criacionismo e Cristianismo

Dr. Augustus Nicodemus G. Lopes
 
Doutorou-se em Hermenêutica e Estudos Bíblicos (Ph.D.,NT) no Westminster Theological Seminary, Estados Unidos (1993). É Chanceler da Universidade Presbiteriana Mackenzie e pastor da Igreja Presbiteriana do Brasil. É autor de vários livros, entre eles "Calvino, o Teólogo do Espírito Santo" (1996), "O que Você Precisa Saber sobre Batalha Espiritual" (1997), "Calvino e a Responsabilidade Social da Igreja" (1997), "A Bíblia e a Sua Família" (2001), "O Culto Espiritual" (2001), "A Bíblia e Seus Intérpretes" (2004), além de diversos artigos.

Em entrevista exclusiva, Augustus Nicodemus explica a relação entre o criacionismo e o cristianismo.

Qual tem sido o entendimento atual da igreja acerca da discussão criacionismo/darwinismo?
Aqui no Brasil esta questão está iniciando. Mas, a tendência é crescer. Conforme um próprio articulista ateu evolucionista da
Folha de São Paulo admite, o criacionismo está crescendo no Brasil. Os evangélicos não são bem informados sobre o assunto porque não há pregação e ensino sobre isto na grande maioria das igrejas e nas escolas onde estudaram só aprenderam o evolucionismo. Não é de admirar que muitos jovens evangélicos percam a fé quando entram na universidade, onde são confrontados com uma visão de mundo evolucionista, naturalista e atéia. Mas, eu diria, que as pesquisas mostrariam que a grande maioria dos evangélicos no Brasil acredita que o mundo originou-se como o livro de Gênesis relata. Nos Estados Unidos, onde esta pesquisa foi feita recentemente, a maioria dos americanos continua crendo no relato bíblico [nota do blogueiro: ver artigo sobre pesquisa com pastores protestantes nos EUA aqui]. O que as igrejas precisam fazer é promover mais encontros e eventos sobre o assunto e dissipar os mitos em torno tanto do evolucionismo quanto do criacionismo.

Dr. John MacArthur, teólogo norte-americano, acredita que rejeitar uma criação literal de 6 dias é um erro teológico sério, pois ataca a autoridade da Bíblia (ver
aqui). O senhor concorda?
Fica difícil discordar de Dr. MacArthur, um homem muito culto e preparado e um dos escritores mais lidos e conhecidos nos meios evangélicos internacionais de hoje. Para mim o problema é o seguinte: se o relato dos seis dias não quer dizer o que parece dizer, então quer dizer o quê? Quais as alternativas à leitura natural da narrativa de Gênesis 1-2? E se o relato da criação não é literal, podemos dizer que o relato da queda do homem em Gênesis 3, que vem logo na sequência, também não é literal? Afinal, Adão existiu ou não? Houve realmente um momento histórico em que o primeiro casal caiu de um estado de inocência em que foi criado? A resposta a estas questões vai afetar profundamente a soteriologia e a cristologia do Novo Testamento, que assume a historicidade do relato da criação e da queda em Gênesis 1-3 como justificativa para a encarnação, morte e ressurreição de Cristo, como Paulo escreve em Romanos 5 e 1Coríntios 15, ao fazer um paralelo entre Adão e Cristo.

Por que muitos cristãos encontram-se confusos com relação ao criacionismo?
Talvez por que não entendam direito a sua Bíblia, as implicações da teoria da evolução para a visão cristã de mundo e nem os argumentos a favor da criação que têm sido levantados e defendidos por cientistas cristãos sérios mundo afora.

Quais são as implicações práticas dessa confusão na igreja?A mais importante é que os jovens cristãos ficam sem um fundamento sólido para responder aos ataques dos ateus e evolucionistas nas salas das escolas e principalmente das universidades, e não poucos acabam cheios de dúvidas ou sem acreditar em mais nada.

Augustus, para terminar. Como o criacionismo tem influenciado a sua vida cristã?Se estamos definindo criacionismo como o entendimento de que o mundo e a raça humana originaram-se conforme o relato de Gênesis 1-2 e do restante da Bíblia, eu diria que este entendimento é a base de todas as demais crenças que tenho acerca da realidade que me cerca e das pessoas com quem convivo. Mais, é a base para a avaliação e compreensão que tenho de mim mesmo como ser humano, minhas limitações e fraquezas, os anseios da minha alma pela transcendência e minha capacidade de crer e confiar em Deus e no seu Filho Jesus Cristo. Sou um ser humano criado à imagem do Criador do universo. Saber isto faz toda a diferença em minha vida, pois entre outras coisas me traz uma base epistemológica para apreciar e defender os valores como o amor ao próximo, a misericórdia e o perdão, a bondade, a busca da paz e da justiça e da defesa da vida humana e do meio ambiente.
_________________________________
 

Nenhum comentário:

Postar um comentário